Olha pra mim!
Veja
o meu estado!
Não consegues me reconhecer né?
Pois é!
Como
mudei, “e pra pior”.
Meu fim está
próximo.
Fim dos tempos do
forró.
Tempos estes que o meu rei “Seu Luiz” com muita luta e determinação, com sua alegria e irreverência, em meio a uma época de desprezo e total desvalorização do povo nordestino, venceu todos os preconceitos e mostrou para o mundo através de mim, o valor do nosso povo, da nossa alegria, das nossas belezas, e o quanto é dura a vida do nordestino, que mesmo sofrida, nunca impediu- o de sonhar, nem de escancarar o seu largo
sorriso,
autêntico deste povo.
Tempos estes que “Dominguinhos, Marinês, Trio Nordestino, Jackson do Pandeiro, Pedro Sertanejo e outros”, tanto se preocuparam em manter- me, conservar- me como sempre fui, autêntico, alegre, puro, e conseguiram! Sou muito
grato pela grande contribuição que me
deram.
Tempos estes que
“ Mastruz com leite, Magnificos, Mel com Terra, Eliane, Baby som, Katia di
Troia, Rita de Cassia e muitos outros” me deram um novo visual,
fiquei mais
rápido, mais vibrante, mais moderno, romântico, mas é claro, sem perder minhas
origens, continuei sendo o que sempre fui, fiquei mais diversificado,
mas nunca
deixei o meu regionalismo de lado.
Até aqui sempre fui bem cuidado, sempre transmiti minha verdadeira mensagem,
que era de levar a paz, a alegria, o amor,
e a coragem ao povo nordestino
para continuar sua incessante luta.
Tempos estes,
que ficaram para trás, e aos poucos fui deixado de lado,
as novas gerações que cujos
nomes não gosto de mencionar e que aos muitos foram surgindo (a partir de 2005),
não se importaram comigo, não me deram o devido respeito e cuidado que
merecia,
e como se fosse uma doença
grave, apropriaram-se de meu nome para propagar a
anticultura,
mensagens profanas que não condizem
com a minha existência, e
propósitos que fogem da minha
índole e que muito destruíram minhas raízes, infelizmente,
hoje sou tratado apenas como um veículo de propaganda (gravadoras piratas),
lavagem de imoralismo, e pornografia musical.
Tempos estes que percebi que eu não era mais o mesmo, mal sabendo que começava ali minha decadência, piorando a cada dia, mal influenciado por inglórios que se dizem “bandas de forró” (e não são), “mas não sabem sequer o meu significado”.
Hoje
sou sustentado apenas por aqueles que ainda medem esforços
para manter-me vivo,
e medicado por uma minoria que ainda acreditam na minha existência e na minha
verdadeira mensagem.
fui jogado em um canto sujo
e escuro,
e hoje estou aqui entregue ao tempo, vivendo ainda apenas das boas lembranças,
lembranças de um tempo alegre, e de um passado puro, intenso, único e
verdadeiro,
que quem viveu daria tudo para viver novamente,
e certamente,
firmemente nunca mais se
esquecerão.
Talvez quando se depararem com estas palavras eu
já tenha partido,
por isso despeço- me aqui dos
meus amantes
e daqueles bravíssimos pioneiros,
desbravadores e
defensores que
lutaram e que ainda lutam
pela minha bandeira.
Felipe
Vitorino
é estudante de Engenharia,
natural de Balsas e mora em Teresina - PI